Psicologia, Psicanálise & Coaching. Uma conciliação possível. Possível?

 

                    Vivemos tempos em que a crítica, ou melhor, a maledicência impera absoluta em todos os níveis “socioculturais”. A intolerância, embasada fundamentalmente na ignorância, no imediatismo, na superficialidade dá o tom das comunicações virtuais. Sim, porque “ao vivo e em cores” as coisas não se passam exatamente assim.

                    A dinâmica da sociedade moderna tem levado muitos a um turbilhão emocional graças às exigências infindáveis de beleza, de felicidade, de sucesso (seja lá o que isso significa), de relações perfeitas, do sorriso permanentemente no rosto...

                    O resultado?! depressão, ansiedade, vivências frívolas, portanto, destituídas de qualquer sentido, de qualquer significado que possa sustentar a incrível aventura humana no maltratado planeta Terra, que não é “nosso planeta”, é o mundo de uma diversidade de vidas que exaltam sobremaneira o milagre da vida...

                    O fato é que profissionais ligados à saúde têm sido demandados como nunca. Isso é muito bom, pois vivemos à procura de embelezamento externo, de aparência física de dar inveja a Afrodite, Vênus, Freya, Apolo, ou semideuses...Aquiles. Não seria necessariamente ruim, pois a saúde mental depende muito da saúde física, mas não se pode esquecer daquela.

                    Com isso, surgem inúmeros debates virtuais, alguns criticando a Psicologia (algumas religiões entendem que isso é “coisa do diabo”), outros criticando a Psicanálise (“não é ciência, é arte, puramente subjetiva”), ou o Coaching (“é uma verdadeira falácia”). É isso que desejo discutir.

A Psicologia

                    Não existe “a” Psicologia, mas sim “as” Psicologias, uma vez que elas se desenvolvem sob várias perspectivas terapêuticas, tais como a comportamentalista, a humanista, a cognitiva. Isso sem contar as perspectivas de estudo tais como: biológica, evolucionista, médica, cultural, social.

                    A Psicologia é uma ciência e se vale da metodologia científica, e tem como marco a criação do laboratório psicológico fundado ao final do séc. XIX pelo fisiólogo alemão Wilhelm Wundt.

                    Isso não significa que não haja críticas em torno das pesquisas, das teorias, das terapias utilizadas, mas o importante é a seriedade com que a aplicação delas se dá, como o embasamento científico sustenta cada uma delas. Aliás, a ciência tem essa extraordinária capacidade de rever conceitos, formular novos, sempre ao escrutínio de outros cientistas que avaliarão os trabalhos de seus pares.

                    A Psicologia Positiva, por exemplo, é uma tese relativamente recente (em torno de 20 anos) que nasceu em oposição ao foco nos problemas, nas dificuldades, enfermidades mentais, buscando explorar os aspectos positivos das pessoas como forma de se atingir o estado de bem-estar. Isso significa que as demais perspectivas estão erradas, ultrapassadas? não, trata-se de uma forma diferente de analisar e trabalhar o comportamento humano, e que precisa ser considerado.

                    A única observação que faria, seria o cuidado que o psicólogo necessita ter para não enveredar em crenças, ou terapias alternativas que não tenham comprovação no âmbito da ciência e que, efetivamente não é Psicologia. Deixemos essa atuação para os chamados terapeutas alternativos (esse seria o caso de um novo artigo e, portanto, não será aqui tratado).

A Psicanálise

                    A Psicanálise teve seu auge na segunda metade do séc. XX, tendo sido criado pelo extraordinário médico psiquiatra austríaco, Sigmund Freud, ao final do séc. XIX, seguido por grandes nomes, tais como Bion, Klein, Lacan, Winnicott e tantos outros.

                    Nos últimos tempos tem sofrido críticas dilacerantes, inclusive da própria neta de Freud, Sophie Freud, que afirma que ninguém com bom senso levaria a sério hoje a maioria das ideias de seu avô. Muitos afirmam que a Psicanálise está mais para a arte (literatura), do que propriamente para a ciência.

                    Apesar de todas as críticas que vem sofrendo, penso que a Psicanálise ainda guarda um extraordinário poder de exploração da mente humana. O próprio Freud tinha verdadeira aversão a respostas prontas (embora parece-me que era bastante teimoso), o que indica o caráter permanente na busca de respostas, de novos conceitos, de novos métodos. A Psicanálise é uma forma extraordinária de busca de autoconhecimento e ao longo do tempo muitos nomes desenvolveram outras formas de análise, outros conceitos, muitos aperfeiçoando as ideias de Freud e outros contrapondo-se a elas. Ademais, é perfeitamente possível trabalhar conjuntamente com a Psiquiatria e a Neurociência. Poderá renascer mais forte e precisa.

O Coaching

                    Muito mais que a Psicanálise, o Coaching vem sofrendo uma verdadeira tempestade de críticas, e tem sito visto de uma maneira absolutamente pejorativa. Isso se deve a algumas questões. Uma delas é o fato de uma grande escola de coaching ter utilizado uma novela da Rede Globo para fazer propaganda...o resultado foi catastrófico. Nessa novela havia uma jovem que havia sido abusada pelo padrasto na infância e não conseguia ter relações sexuais com seu namorado/marido. De outro lado havia uma jovem advogada que era sua amiga, se não me engano. Em um determinado momento essa jovem advogada aplica “técnicas de coaching com hipnoterapia” e a moçoila se cura!

                    Não é necessário dizer que entidades diversas, particularmente o Conselho Federal de Psicologia teceu duríssimas críticas a esse absurdo. Coaching é uma metodologia que busca auxiliar na organização de alguns aspectos que as pessoas necessitem para atingir determinados objetivos, tais como solucionar algum problema, desenvolvimento profissional, entre outros. Não é terapia, não é medicina. É simplesmente um método para ajudar a pessoa a estabelecer um plano para que ela própria possa agir, de forma organizada, e assim atingir seus objetivos.

                    O grande problema é que, tal qual a Psicanálise, carece de regulamentação, e por isso aparecem profissionais muitas vezes despreparados e com denominações as mais diversas possíveis.

                    Com isso, para não estender demasiadamente o presente artigo, o desfecho é simples e previsível: Psicologia, Psicanálise e Coaching são excepcionais formas de apoiar o desenvolvimento humano, o autoconhecimento, a busca de solução para diversos problemas.

                    Como sempre, o importante é que cada um atue rigorosamente na sua área. Como em todas as profissões, há os competentes, os incompetentes, os desonestos e algumas composições entre eles. É preciso senso crítico, não há milagres, pesquise muito bem antes de se valer do trabalho desses profissionais. Não é tão difícil assim descobrir se são bons ou não, principalmente em época de tecnologia avançada e mídias sociais. Promessas de milagres devem ser rechaçadas imediatamente. Esse é um campo para outras áreas do conhecimento humano, tais como as religiões.

 

                                                                                                    Mauricio Lambiasi

Graduado em Administração de empresas e Psicologia clínica, Mestre em Gestão de pessoas, Doutorando em Ciências empresariais e sociais.

Comentários

  1. Trouxe-me novas informações, obrigada, mas gostaria que escrevesse sobre a origem do "coaching" como surgiu, onde foi empregado inicialmente e seriamente, porque, eu, por exemplo, conheci o "coaching" quando já era alvo de chacota, e ao comentar com amigos que esse já foi algo sério, a expressão foi de incredulidade.

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    1. Muito obrigado querida, futuramente produzirei um texto específico para esse tema.

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  2. Texto bastante esclacaredor. Muito comum a confusão entre as três ferramentas, que como vc nos ensinou podem até ser complementares, mas são muito diferentes.

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  3. Excelente explicação de três modos dos muitos que existem de se auxiliar na busca pelo autoconhecimento e evolução. Eu, como psicóloga, coach e hipnoterapeuta acredito que é mais que possível a conciliação de diferentes práticas é algo que pode enriquecer um atendimento. Inclusive sempre estou aberta a novos conhecimentos, por mais "diferentes" que eles possam ser, sempre temos a ganhar. É claro que, como foi dito, é importante filtrar informações e ter cuidado com "profissionais" não preparados ou que só estão interessados no dinheiro do seu cliente.

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  4. Muito obrigado pelos seus comentários Débora!

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  5. Texto muito esclarecedor!!! Parabéns 👏🏻👏🏻

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  6. Maurício, meu irmão, como não ser grato a quem, de forma tão generosa, compartilha seus conhecimentos e reflexões, proporcionando-nos oportunidade de também refletir e aprender? Uma conexão possível, entre o mundo concreto e mensurável da ciência, contemplado no paradigma materialista, ainda vigente, e o mundo etéreo e imponderável do espírito humano, nos é apresentada pelo Psicanalista Jung. Quem sabe, em outro momento, tu possas nos brindar com tuas reflexões a respeito? Abraços, mano velho.

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