Relacionamentos abusivos, amor e dependência emocional

 Relacionamentos abusivos, amor e dependência emocional


                    No artigo anterior escrevi sobre o perfil do chamado perverso narcisista, particularizando para o caso em que o homem é vítima, apenas para lembrar que abusos ocorrem, independentemente do gênero da pessoa. Não há dúvida de que esse perfil é capaz de levar alguém à ruína emocional, física e até financeira.

                    Por que então alguém e capaz de manter um relacionamento, muitas vezes durante anos, com um perverso narcisista? Será amor? Esse é o grande dilema. A vítima costuma confundir dependência emocional ou amor doentio com amor verdadeiro. Em tese, é muito simples: QUEM AMA NÃO MALTRATA O OUTRO. Vamos a um exemplo bem simples. Imagine que você iniciou um relacionamento com alguém, está tudo bem, recebe elogios, olhares de admiração etc. Entretanto, em um fim de semana, você gostaria de ir ao cinema e convida a pessoa “amada” para determinado filme, em certo cinema, no horário tal etc. Essa pessoa lhe diz: “Em fins de semana eu não tenho nenhum compromisso pré-estabelecido. Na hora eu vejo”. 

                    Bem, aparentemente pode não parecer nada de mais (estaria de mau humor?), entretanto, pode ser já uma sinalização relevante. Se vocês combinaram de estar juntos, ou mesmo viverem sob um mesmo teto, significa que irão compartilhar diversos momentos, em que um, mesmo que não esteja “morrendo de vontade” de fazer algo, o fará para satisfazer o desejo do parceiro e para com ele estar. Alguém que diz certas coisas, como se o outro não existisse, pode ser um sinal aterrador de que se trata de um egocêntrico, ou seja, somente ele importa; além disso, pode ser também uma pessoa sem empatia, ou seja, não consegue perceber o sentimento do outro, colocar-se no lugar do outro...

                    Claro, é preciso cuidado para não se precipitar, mas sinais como esse irão se repetir, você começa a se sentir um objeto, que está ali apenas para servir essa pessoa, entretanto, você a ama e imagina que se trata de um temperamento um pouco complexo, que essa pessoa teve problemas na infância, que é necessário compreendê-la.

                    Mais um exemplo? Você está escutando uma música e a pessoa diz: “Que música irritante”. Você conta uma piada e ela diz: “Que coisa sem graça, isso me irrita”. Poder-se-ia dizer que isso acontece com todo o mundo. Ocorre que, ações como essas e muitas outras, passam a ser frequentes, sentimentos ambíguos começam a tomar conta de você. Sim, amor e ódio podem conviver na mesma pessoa, pela mesma pessoa.

                    E você continua com ela. O que isso significa? Provavelmente trata-se de uma relação de dependência emocional. E por que isso acontece? Somos frutos da nossa herança genética e da influência do meio em que vivemos. Desta forma, as experiências da infância podem tê-la tornado uma pessoa insegura, com uma estrutura emocional extremamente frágil. Você será uma presa fácil para um perverso narcisista. 

                    E como se livrar disso? Veremos em um próximo artigo.

                    De qualquer forma, o maravilhoso texto de Ancira Dueñas diz (quase) tudo o que você necessita saber para verificar se existe ou não amor:


“El amor no debe doler. El amor implica confianza,

protección, respeto a los gustos del outro,

comunicación, caricias, ayudas al

crescimento emocional y espiritual.

Consiste en compartir la vida con alegría,

dialogar sobre las diferencias y preferencias, 

y respetar la integridad física moral y espiritual

de la persona amada”



Mauricio Lambiasi
Graduado em Administração e Psicologia Clínica
Pós-graduado em Biologia
Mestre em Gestão de Pessoas
Doutorando em Ciências Empresariais e Sociais
Formando em Psicanálise Clínica

Comentários

  1. Excelente explanação!!! Parabéns 👏🏻👏🏻

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  3. Sempre bom ler você Maurício. Vou repassar o artigo para frente. Ele com certeza tocará pessoas, uma em especial que conheço. Abraço. A.T.

    ResponderExcluir
  4. Realmente, o amor não deve(deveria?) Doer. Ansioso pelo novo capítulo, parabéns

    ResponderExcluir
  5. Muito bom o artigo; é fácil confundir amor verdadeiro com dependência emocional

    ResponderExcluir
  6. O artigo nos motiva a fazer uma reflexão profícua em torno da paradoxal combinação que entrelaça a necessidade ontológica do amor e a cruel sutileza da dependência emocional. Aquele que agride simbolicamente, desrespeita, desqualifica e inferioriza o outro de forma habitual se torna o tirano de uma relação sumamente arbitrária. Sendo assim, estabelece o que podemos denominar de "ódio dissimulado", o qual anula o protagonismo e o livre arbítrio da parte que se tornou submissa em razão de sua dependência emocional. O mestre Maurício Lambiasi faz uma magnífica análise dessa condição de sujeição abjeta que, lamentavelmente, muitas pessoas confundem com amor. Ora, sabemos que o amor compreende, acolhe, felicita e valoriza a idiossincrasia do outro. Enfim, o verdadeiro amor enaltece e dignifica o viver humano. Parabéns pelo artigo meu caríssimo irmão! Vamos aguardar ansiosamente o seu próximo texto!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Muito obrigado irmão, não somente pela generosidade dos comentários, como por agregar conhecimento ao presente artigo!

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Ética, negocios y sociedad: una conciliación posible